quinta-feira, 27 de março de 2008

desabafoporqueeuprecisavadizerassim: caos.

Precisava mudar minha vida. Mudei. Tudo me diz que a busca agora é outra, e é, mas ela se dissolveu pela cidade e se estou assim, perdida como nunca, é talvez por não tê-la encontrado nos lugares por onde passo e talvez isso seja por ela estar deveras evidente – tudo engana.
É que o que vejo nesses lugares é deslumbre – atravessar as avenidas é cumplicidade. Nunca sei a que horas devo ir através dos carros, e quando todo mundo vai, eu vou também e não morro. A pilha de carros com farol ligado no começo da noite, vista de cima, parece uma fileira de vaga-lumes e não uma pilha de gente que não queria estar ali. Estou encantada pela desordem, e me tornando mais e mais desordem, porque eu não sei o que faço da hora em que eu saio da aula até a noite, quando eu vou dançar. Supostamente, teria que ler Parmênides, na prática, morro um pouco até que prenda o cabelo e o mundo sinta que rodopio para não dissolver e para reconstituir o que se esvaiu até então. Meu conceito de tempo se perdeu tanto.
Pra mim sempre foi ciclo e quando vi que para eles também era, eu me rendi. Todavia, preciso da linearidade para não me atrasar – busca de conciliar o tempo do mundo com o meu, que também era o tempo antigo. E eu escorro pelos ponteiros.
Minha vida lá, cíclica até o absurdo, terminou com plena consciência do que eu era, do meu papel no mundo e que aquilo tudo era ARte. Intervenções artísticas em mim. Eu pegava a dança aqui de dentro e fazia fotografia, agia dentro do ritmo e tudo me entendia, porque esse tudo guardava uma complexidade sutil, que eu não sabia qual era, mas sabia que descobriria mais tarde. Era um ciclo onde isso bastava. E eu escorria pelo mistério.
Complexidade sutil jogada na cara, num apartamento no centro de Belo Horizonte, escancarada no devir. Ele não comporta minha professora de ballet que achava qualquer sacrifício que eu fazia bonito, ele não queria comportar a música que ouvi ontem no corredor – a mesma que ela dava no plié e port de brás – pra eu não ver que, sim: parte da minha alma mora dentro do piano de lá. Não comporta porque lágrimas são difíceis, sabemos todos. E, já que a vida é movimento para todos os seres, que ele, o Devir, viaje eternamente de dentro de mim pra lá, de lá pr’aqui dentro pra eu poder entender mais uma vez que está tudo junto, e que, vista na desordem, em todos os tempos do mundo, na arte acima de qualquer coisa, no piano de lá, transposta para o piano de cá, a alma é onipresente. E a mudança, minha desordem eterna.

domingo, 16 de março de 2008

Quando a gente ficou tão simples?
É que antes tudo ficaria no ar. A possibilidade de encontro seria suficiente, e agora eu ligo até pra minha própria aparência para caminhar.
Ali, na sala de aula, reparei que em todo dia ensolarado a luz penetra, assim, por cima da janela e eu nunca vi mais brilhante, e naquele dia comecei a ficar com dúvidas se o que estava ali perto de mim, iluminando tudo, era deus ou você. Talvez estejam até se fundindo absurdamente, e juro que aí ou vou me perder pra sempre ou me acho enquanto devota do mundo. E vai ser por tua causa. Eu vou me perder. Quanto mais mediação, menos sagrado é um contexto, e eu vou me perder porque vou recusá-la, numa escolha intuitiva em que as perguntas, as respostas, as pessoas e o tempo vão andar juntos, se apoiar em si mesmos e voar e...

(Fiquei tão simples que não sei mais como contar...)

É ali, na sala 3049, que ganha uma tonalidade entre branco, amarelo e a cor-de-eu-espalhado-pelas-paredes quando você chega: você me invade em forma de luz toda manhã.