quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Ai, Deus. Ou foi você ou fui eu quem sumiu por um tempo. E você sabe muito bem - melhor que eu - do que tenho sido devota a vida inteira, sabe que não foi de ti em seu ser mesmo, pois não há nada no mundo que eu considere alheio a você. Sabe bem da minha indignação diante das separações: como se houvesse todo um mundo para o qual você olha e guia sem integrá-lo, como se dois conjuntos-universo seguissem cada um a seu modo; o seu sendo o ditado e o nosso as letras, quando aquilo que tão vagamente chamados mundo dos homens se move dentro de ti, porque o é. Se houvesse essa divindade dissociada, a procuraria e ajoelharia e pediria perdão, porque esse absurdo que é um deus sozinho nos faz pedir a ele apenas os prazeres e os bens. E eu fui tão idiota, que esqueci a necessidade da morte momentânea e silenciosa ( e quem sabe até mais sofrida que aquela que tira o movimento do corpo dos outros) a qual, só compreendida a longo prazo, possibilita a retrospectiva da existência e a aceitação de que o mundo está exatamente como devia. Não por ser o jeito ideal, mas por ser exatamente o jeito que possibilita o retrospecto e a compreensão parcial, e que vem ressoando desde que o homem abrira os olhos, admirara-se, sentira, pensara, tentara, dizera - e nenhuma dessas coisas é tão diferente entre si.
Só queria ser um pouco maior para agradecer o sofrimento, mas ainda não. O máximo que consigo é aceitar minha morte e confessar que a dona do sumiço fui eu, num esforço para consertá-lo.
Quanto a você... você nasceu hoje mesmo? Por que você enche minha vida de números 16? Por que eu tenho 18 anos e nunca consegui aprender a andar de bicicleta? Plotino estava certo? Ou ser certeza e ser humano são as únicas coisas do universo que não se entrelaçam? Você reparou que me afastar de você foi parar de escrever? E que, seja no ato de me aproximar ou de fugir de você, toco o tipo de filosofia mais inocente que se fez?
Você sabia que eu pretendo chorar de alegria quando esse ano acabar?

E se é de dentro tudo que existe e em ti onde me circunscrevo, que continue a habitar o Eu sem desistir do meu. Então prometo que em breve sentiremos o vento bagunçando o cabelo, sobre um banco qualquer de bicicleta...