quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Gi, the warrioress.

Cresci toda amarrada por tua causa, meu deus. Só que cresci colorida.

Assim: a gente ia criando um universo toda vez que ninguém olhava, olhando as mesmas cenas, nas ondas de mar que não queríamos ver ao viajarmos. As coisas iam adquirindo uma forma própria, de interpretação tão nossa, e ninguém podia saber. Ninguém mais cabia. Toda visão tinha um pedaço mais profundo, extenso: e a gente se doava pr'aquilo e pulava sem olhar pra trás, até você precisar voltar (eu sempre permanecia um pouco mais.)

Aí teve a época que eu fiquei por anos e você foi embora.

Você foi e não pode saber do que houve...

não pode saber que eu beijo mulheres e gosto, não pode saber que eu sei dançar e pouca coisa mais me importa e que pra mim Homero tem mais utilidade que a faculdade de Direito que você escolheu. Porque nesse mundo com que me ajudou, se te ausentas por um minuto quem ta lá dentro se sente só e se doa de novo pra todos os milhões de insights que invadem e consegue ser muito pouco para-além do próprio pensamento. Você não pode saber.

Olha, a gente tem quase vinte anos. Você não joga mais água nos meus olhos, a gente não tem mais uma agência de espionagem secreta, não investiga quem roubou dez reais do nosso avô, a gente nem tem mais um avô... não assistimos Dirty Dancing há anos, nunca mais viajamos juntas.

Trocamos vídeo game por Sex and the city, e ainda não temos coragem de contar por quem nos apaixonamos. Nos conhecemos em parte, mas eu te amo inteira. E família é isso, certo? Só se suportam porque não sabem do outro até o fim. Não sabem com que andam sonhando, nem porque choram a noite quando ninguém vê, nem quando perderam a virgindade, chegam a ignorar a humanidade de seus integrantes por vezes, vendo-os como super heróis que não morrem, chegam a se assustar quando hesitam. Mas ficam juntos.

Não escondo: você é pra mim guerreira quase-deusa de armaduras cor de rosa.

Mas admito, nos resquícios mundanos em que ainda nos alcançamos:

dos nós que existiram quando pensava em vc, só restou a primeira pessoa do singular, dentro de um coração bem grande.