sábado, 27 de maio de 2006

Soundtrack: Amara Portuondo, "Que emocion"

Foi tão injusto quanto o dia em que uma moça com retiré torto passou de nível na dança primeiro que eu.
É tão engraçado a forma como eu achava que sentir raiva era para pessoas incompletas e imaturas. Mais engraçado ainda a necessidade que eu tinha de me apaixonar por alguém quando eu pensava assim.
Agora, parece que quando o amor é próprio, a gente é livre para sentir raiva sem culpa e sem medo de tudo o que desejamos de mal ao outro vir nos afrontar.
E a gente é livre porque não passamos cada dia da vida torcendo para o fracasso alheio, mas apenas quando nos vem à cabeça tudo de mal que nos foi feito, oculto. A maneira como entraram na nossa vida, mudaram tudo aquilo em que acreditávamos e a maneira como foram embora pra sempre.
E quiseram tirar nossa própria identidade. A mesma que desde a pré-adolescência, buscávamos em canções confusas, modas alternativas, na vontade de ser exclusivo, de ter uma opinião própria, de convencer, no ato da auto-afirmação.
Aquela mesma busca que resultou em lágrimas e divagações e explosões dentro de nós, que nos obrigou a crescer da noite pro dia sozinhos, porque ninguém compreendia.
Toda aquela dor e experiência quiseram nos tomar. Torná-las em vão.
É, sejam livres. Não se apaixonem.
Não pelos outros.
Outros que afirmarão te amar, mas na maioria das vezes por dó e não por causa da consciência de que essa frase te fará saltitar e sua felicidade é a causa principal da deles. Outros que comentarão cada defeito seu com algum amigo e dirão estar se cansando da sua pessoa aos poucos. Outros que levarão essa situação até ela se tornar insustentável e te dirão adeus da maneira mais fria possível (ou nem isso...) e tomarão raiva da sua cara.
E não, aqueles textos de auto-ajuda que dizem que as decepções vão te fazer amadurecer e criarão novos jeitos de ver o tal do "amor", na verdade te farão entristecer com a realidade, porque esse jeito aí é único e se consolidou enquanto te liam contos de fadas.
A verdade é que toda a beleza e todo o lirismo estão no sonhar. E todo o sentido consiste na IDÉIA de que entre seis bilhões de pessoas tem um serzinho que vai gostar tanto de você, que aprenderá a conviver com cada peculiaridade sua e será fiel, que te levará a todos os lugares maravilhosos que você sonhava enquanto assistia à algum romance com roteiro medíocre quando era adolescente. Alguém que lê seus pensamentos e cujo sorriso compensa cada passo para trás que você deu.
Mais engraçado que minhas filosofias equivocadas é quando você descobre que esse serzinho é você mesmo.
E muito, muito mais cômico ainda é como você se contradiz. Ao mesmo tempo que tem plena consciência de tudo que foi escrito aqui, alguém que sente atração por você e é correspondido cai na sua vida e você se torna o mesmo idiota sentimental de anos atrás. Afinal, a crença de que os que buscam a solidão demoram pra se cruzar, mas acabam se dando bem quando se encontram por estarem presas a um "eu" bem claro, sempre existiu.
É tudo culpa das novelas da Globo.

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