domingo, 21 de janeiro de 2007

Eu devia parar de mandar Pablo Neruda para todos por quem eu me apaixono.
Aí eu poderia guardar tudo pra mim e sentí-los através de motivos que fossem só meus.
Pior que falam demais prá se restringirem a enfeitar a primeira página da agenda até que algum curioso me pedisse prá ler.
Sei lá porque to escrevendo sobre isso. Achei o post passado tão sem nexo que precisava escrever de novo... imaginem que eu comecei a escrever aquilo no auge da inspiração, toda tomada pelo conceito de "beleza" que o cinema ("enquanto arte", eu lembro ter dito) falava em mim.
Daí comecei a ficar chateada. Não compreendo nunca a minha mania ridícula de achar que todo mundo que me ama tem que adivinhar meu estado de espírito, é triste e patético.
E acabei em lágrimas copiando os poemas dele na agenda. Talvez tenha sido por isso.
Sabe do que eu lembro?! Da última vez que eu amei. A cada dia do mês que ele completava mais um tempo na minha vida eu deixava um poema de Neruda, começando por:

“Tu eras também uma pequena folha
Que tremia no meu peito
O vento da vida pôs-te ali
A princípio não te vi: não soube que ias comigo
Até que tuas raízes
Atravessaram meu peito,
Se uniram aos fios do meu sangue,
Falaram pela minha boca,
Floresceram comigo.”


...Não durou muito, mas não é isso que importa hoje. É o poeta por si só.
Suas “lágrimas sórdidas”, além de ele provavelmente ter sido a única outra pessoa do mundo que viu magia em contemplar os pés dos outros. E que sofreu exatamente a minha ambigüidade. A única que soube me mostrar alegria e silêncio da mesma forma, como sinônimos, como se um fosse causa do outro e como um SENDO causa do outro, por fim. Que conseguiu personificar a Poesia ainda melhor que Florbela quase que afastando de mim o medo de escrevê-las. É, eu tenho medo de escrever poesia porque minhas poucas linhas sempre dizem o contrário pra quem não me ama... e quem me ama não adivinha meu estado de espírito... as linhas não diriam nada. E sabe o que mais?! Neruda também não me amava. Mas adivinhou boa parte de mim quando escreveu Pedras Antárticas e quando acrescentou “uma canção desesperada” ao título do livro.
Esse ano eu abri com

“...E conheci salões cinzentos,
Túneis habitados pela lua
Hangares cruéis que se despediam
Perguntas que insistiam na areia.

Tudo estava vazio, morto e mudo
Caído, abandonado e decaído
Tudo era inalienavelmente alheio,

Tudo era dos outros de ninguém,
Até que tua beleza e tua pobreza
De dádivas invadiram o outono.”


A diferença? O pouquinho que eu cresci ontem tornou o motivo desse poema plenamente meu e meu, teve certeza de que é passageiro mas não se importou.
O motivo, por sua vez, ficou concreto, invadiu e hoje não preciso voar pra mostrar sentimento. Respirar já basta.

Um comentário:

Anônimo disse...

o.O