domingo, 3 de fevereiro de 2008

Primeiro Período.

Era eu andando pelo corredor. Sem saber se estava aqui dentro mesmo ou materializada n'alguma partícula de poeira, mas deus sabe que nunca havia me enxergado tão alta.
Oi, eu sou Nathália, tenho 17 e parece que tô indo embora. Fui tudo que pude ser no mundo até aqui e por confiar tanto em nossa própria impotência, me recusei a achar que tudo já foi pensado e por confiar tanto na minha vontade de ser mais, escolhi Filosofia. A dança já me escolheu faz anos.
Tão alta! E de imediato tentei lembrar o que foi que aprendi de verdade. Poucos dias antes do vestibular, aprendi que a música desenvolve as habilidades do lado esquerdo do corpo, num documentário cheio de tribos e ritmos que me deu a certeza de um dia estar num curso de antropologia. Lembrei de querer ser astrônoma: Urano tem um anel vertical. O Sol deve engolir a Terra daqui a muitos anos. Se morássemos em Júpiter, seríamos achatados, que a gravidade é quatro ou catorze vezes mais intensa! (Mas ainda não sei o que aconteceria se habitássemos Saturno...)

Parece que foi só. Lembrei os três anos em que estudei naquele colégio maldito, onde, por mais maldito que fosse, notei que o céu tem todas as cores em si e eu também. E que uma das quasenenhuma vantagens de haver quaseninguém no mundo escolhendo como viver por amor, é que quando duas exceções se esbarram, o encontro é imediato e estão os dois perdoados por ser. Assim encontrei uma professora de literatura que sabia tudo e um de história que sempre me fez querer ter estado nas "Diretas Já", a ponto de morrer de nostalgia pelo que não vivi.
O primeiro livro grande que li! Descrevia os aromas persas da idade média e o sangue vivo exalado dos castigos orientais e como o mundo pára quando alguém da famíla morre. Ele tornou doce uma sessão de sexo oral porque não passava da concretização de desejo reprimido pela nossa própria humanidade e nãosaberoquefazer a partir de leis de vida que a gente nem sabe pra que existem. Hoje eu quero ir pro lado de lá, lá pro Marrocos, já descobri que os castigos ocidentais sempre tiveram um preço mais alto, tive um calafrio lembrando do que foi minha mãe sofrer um acidente na minha frente e sinto que tudo é humanidade, basta que a gente permita.
Senti que estou indo, e é pra ser mais perdida que antes. Sorri, por estar indo pra cair ao lado de mais 44 perdidos ou mais, onde, não sei o que vai remanescer, mas que haja Epicuro, francês, latim e arte, sem jamais desprezar as várias cores do mundo.

4 comentários:

Clareana Arôxa disse...

Eu vim aqui no seu blog a um tempo atrás, mas não consegui comentar. Vim falar da "dancing star" situada no ombro direito, minha guia. Li seu texto e senti que ainda não dava pra falar porque estava vivendo aquilo de "A gente enloquece, sente a culpa e a ausência e o medo, mas aí acontece o abraço". Voltei e percebi o quanto eu precisava da parte que chega o abraço e as coisas ficam bem.Fantástico isso.

Pretendo ingressar ao mundo dos filósofos assim que virar uma "dôtora". Filosofia me apaixona e a dança me faz livre. É linda a sua foto, é lindo o seu blog.
Volta no meu sempre que quiser e eu vou te adicionar por lá.
Boa sorte na nova porta que se abriu e muita luz nas cores.

beijo

Anônimo disse...

Eis-me aqui: quase vinteeum, uma curitibana que não consegue ir embora, tem medo do mundo (mesmo que não pareça), tem medo de si, tem medo do desconhecido. Quer muito ir embora, mas não sabe.
Quando eu conseguir ser mais você, eu volto aqui e escrevo mais. Porque agora, agora, ô minha menina... Vai e rodopia pro mundo, que eu sei que tu bem podes - e é.

Te amo. Sem nenhum pudor, nem nenhum nexo, nem nenhuma explicação. Nem precisa.

Renato Ziggy disse...

Amei tua reviravolta, teu sucesso, teus olhos que se achegam pro futuro próximo, mas que não desprezam o passado. Você é linda, inteligente, e vai se achar e se perder em interrogações infindas´. É gostoso isso. Vai tá perto de mim, vamos bater altos papos cults, fazer matérias juntos e dançar bagaráleo um maracatu escaldante. Amei esse texto tão cheio de você e da sua vida. Minha sobrinha linda! Bjos,
Tio

Otavio Cohen disse...

seu post de fim-de-ensinomedio-começo-de-superior ficou inigualável.

(nem te mostro o meu, feito 2 anos antes...)

dois anos. e dois anos depois eu ainda sou um estranho no meio desse tanto de mato. acho que isso é normal, é assim que estamos supostos a viver (ok, tradução ridícula de uma expressão não-portuguesa que me veio à cabeça)

mas pensa só. eu era só eu. você é você e ele. é você e eu.