segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Vazio se ocupou de mim um pouquinho hoje, quando acordei.
Depois foi só Saudade.

Saudade da velhinha que me motivou a continuar sendo só parada lá, dando sua aula.
Num dia de início de ano ela enfiou uma Metafísica ali no meio e eu fui só lágrimas quando o sinal tocou: ela entendia. E eu por dentro era tão minúscula ainda, queria tanto que ela soubesse o quanto era feliz, o quanto a amava. Porque ela entendia.
Até que, deve ter sido em outubro, porque eu nunca fui tão pura na vida a não ser naquele outubro, ela pegou na minha mão e eu disse bem assim [ fui tudo que consegui ] ''Ai, Olívia, eu amo literatura."
E ela já sabia.
Agora são quase dois anos depois, minha querida. Eu tenho do meu lado Ulisses e Homero, Heráclito e Safo de Lesbos. Tudo junto contigo.
Eu tenho fome de García Marquez, de Saramago, Lygia Fagundes Telles, junto contigo à distância e a todo sentimento pleno que me vem quando penso em ti. E toda vontade de ser grande como tu; saiba que o coração grande e mole escondido como o teu é minha verdade.
Hoje a saudade é tanta que fui ali, pro mesmo lugar onde se reencontraram todos os ciclos da minha vida quando eu tava pra sair de casa, e parei um momento. Sabes que tinha um homem, apoiado numa bicicleta, olhando pro mesmo lugar? Aposto que viu a mesma coisa. Aquele zilhão de moléculas de água se prolongando dando a ilusão de mar, ignorando as casinhas de trás. Na época as águas de lá se inteiraram com as dos meus olhos pela primeira vez, hoje são uma só - então isso é que é ser árcade?
Quis contar a ele que eu entendia, assim como você.
Surjo pasma, então, com a descoberta de que lembrança também é purgação. Sai de mim tudo que eu fui ali, te vendo dando aula, me reencontrando e querendo voar. Em-si do que ninguém conhecera muito bem - já disse que meu coração ama esconder-se.
Retorna a mim, sempre maior - ring composition da vida, como sempre - e te sinto mais.
Na esperança de ser grande assim, que o cinza seja som de riso já pela noite.
Que esse coração meio simbolista, meio torto, meio pré-socrático, todo 2007 se aquiete. Com toda saudade doída de agora, te mando todo desejo de luz que consigo.
Levo comigo tuas aulas e principalmente os abraços trocados do lado de fora.

2 comentários:

Insolente disse...

que lindo!
essas pessoas que a gente ama imensamente, e eles mal suspeitam como, quanto.
E Lygia F.T. tem meu coração, completamente. No dia que quiser destruí-lo, vai fazer com a mesma graça de sempre e isso ainda me fará sorrir no último minuto. Eu lhe entreguei minha alma.





---presentinho pra vc no blog ;)
bjos

Renato Ziggy disse...

Minha eqüina mais fofa, você: suave, terna e luz. Não tem coisa mais satisfatória pra um educador do que contemplar uma delícia de texto dessas (feito essa preciosidade que você escreveu) e sentir que valeu a pena insistir. Mostre esse texto a ela, Engel. Ela vai se emocionar... Beijos,
Teu tio.