sábado, 12 de maio de 2007

Sobre o tempo não-das-horas...

... Mas sobre o tempo gelado que faz sol.
É lindo demais.
Gosto de acordar com a cara amassada, com sono e com a luz do sol bem amarela e bem nos olhos. Gosto de precisar de um moletom apesar da luz, porque sempre disseram que sol e frio não se gostavam, daí vejo que não é verdade, prá sorrir pensando em todas as vezes que defendi os "opostos que andam junto" (era assim o texto?!).
Aliás, essa semana me rendeu um fato engraçado por causa desse post antigo.
Creio que já comentei com alguéns, mas agora admito a todos que, quando tenho que escrever por obrigação, encontram-se trechos de postagens antigas espalhadas. Não é pelo fato de minha inspiração ter hora, mas é que é tão estranho ler para quem não sente, que tento me simplificar com o que já existe. Com o que já existe em mim.
A proposta era remontar poeticamente um desses textos clichês, cujo autor não se sabe e é mais fácil falar que é de Shakespeare... lidos por pessoas que se emocionam com eles no momento, até o último ponto final, quando elas saem da sala para continuar sendo o mesmo tédio de antes.
Não montei nada. Quebrei. Quebrei cada verso a partir desse ponto de vista sobre os leitores de shakespearesgratuitos, finalizando a quebra com frações dos meus limites, meios, opostos que andam junto.
A graça?!
Involuntariamente, insultei mais da metade da sala de aula no meu quebrar (e mais da metade desse mundo, meu deus), entretanto, ganhei mil aplausos e parabéns pela criaç... reafirmação da alma.
Foi aí.
Aí que eu me desprendi.
Não vivo mais o que já morreu... não vivo mais as pessoas como um todo. Vivo as desconhecidas, e só quando há paz em mim, por ter me apaixonado pelo frio que vai chegar, ou pelo mar de julho, ou pela flor cor-de-rosa nova do jardim. Vivo-as quando há espera ou amor maior que eu pelo que já existe e não é humano.
E na tristeza, só vivo quando, já com as sapatilhas nos pés, começo a tocar o chão com elas e sentir as bolhas e ainda assim continuo a tocar, até tirar e ver que os dedos sangram. Vivo por saber que dessa dor não morro. E a escolhi. É, aí eu vivo: é a única coisa que realmente tenho prá perder e não vou. Por sentir que os pés não suportam só as duas pernas, o tronco, a cabeça, os cílios alongados com máscara: suportam também o peso da dor que não se dança.
Aí eu fico aqui. Encantada com o frio que abraçou o sol e com o último texto da Menina ao Meio, embaixo do cobertor de pijamas aguardando julho prá ver o mar.
De pijamas, com os pés cheios de band-aids e esparadrapos... por essa semana eu ter vivido mais que suportava realmente.

4 comentários:

Anônimo disse...

[...] Vivo por saber que dessa dor não morro. E a escolhi. É, aí eu vivo: é a única coisa que realmente tenho prá perder e não vou. Por sentir que os pés não suportam só as duas pernas, o tronco, a cabeça, os cílios alongados com máscara: suportam também o peso da dor que não se dança"...

A coisa mais linda do mundo, cada letra. Cada sentimento. Cada linha que eu te escutei dizer, mesmo sem nunca na vida ter ouvido tua voz. Cada lágrima que eu derramei lendo, cada pontada aqui dentro, cada sutileza nesses pés que sim, suportam o mundo, feito a poesia.

Aí eu fico aqui. Encantada com o frio que abraçou a lua e com o último texto da Nathália, embaixo do cobertor de pijamas aguardando julho prá ver o (a)mar.

Obrigada, minha linda. por se encantar e por me encantar, por nos encantarmos desse jeito tão puro e simples, que só Poulains conseguem - e sabem o que é, de verdade. :*

Anônimo disse...

E obrigada por defender as palavras, obrigada por não deixar que Shakespeare seja banal, obrigada por fazer dessa tua dança um jeito do mundo também,

ro
do
pi
AR
.

kleine kaugummi disse...

Só não se vive quando não se permite viver, não é?

Eu que também vivo dessa vida de dores, arte que sangra, ar que não respira, batuta que desliza, noite que não se dorme, arranjo infinito a ser parido na madrugada. Arte que ainda não sei se bendita ou maldita, entre a fibromialgia que insiste em imobilizar-me.

Não dá.
Sou tempestade demais pra caber em qq movimento, mesmo nos menores.

E é por tudo isso que eu te digo que não somos algo que se pode parar. Que não somos só aquele amor sentido por eles em algum lugar dentro.

Somos é mais.

De um jeito que só sapatilhas sangradas
e batutas quebradas podem entender.

=*

kleine kaugummi disse...

Ah, esqueci de dizer.

Gostei tanto assim,
do preto-no-branco,
mais claro.

A véinha aqui agradece por conseguir ler melhor sem precisar forçar os zoinhos miúdos que nem aparecem em foto de msn.

=*,
de novo.